Saturday, March 03, 2007

A viver novamente

Meses depois, volto a pensar e volto a existir.

Durante este tempo, vivi numa realidade paralela, envolvida num dito "conhecimento" a que alguns chamam académico.
Renego-o completamente, mas uma escolha que feita ha uns anos (um pouco na ignorância ) fez com que me tivesse de deparar com ele, ano após ano, durante vários anos.

Não o sinto, não o entendo e tento o mais rapidamente eliminá-lo.
Aquele é o conhecimento de alguns sobre a vida e tudo o mais, mas e eu que não concordo com ele? Quem são aqueles individuos para o conhecimento da vida seja superior ao de tantos outros individuos?

Com vergonha, menciono que esse conhecimento envolve uma teoria funcionalista que atribui 15 funções às pessoas que vivem na pobreza. E o preço do kilo de batata no ano de 1981.

Já não consigo ver nada de positivo. Ou talvez só às vezes... Sim! Há coisas positivas! Há sempre! Tem de haver porque é a nossa vida!


E passada esta fase, procuro renascer! Fujo para Coimbra à procura de amigos, noites longas e bem passadas com alcool e alegria. Um ambiente diferente... tanto.

Procuro, também, quem me faça pensar "devidamente". Leio Raul Brandão, "mestre" de José Gomes Ferreira. Deixo aqui um excerto....

"Sou um mero espectador da vida, que não tenta explicá-la. Não afirmo nem nego. Há muito que fujo de julgar os homens, e, a cada hora que passa, a vida me parece ou muito complicada e misteriosa ou muito simples e profunda.
Não aprendo até morrer - desaprendo até morrer. Não sei nada, não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas.
O papel dos doidos é de primeira importância neste triste planeta, embora depois os outros tentem corrigi-lo e canalizá-lo... Também entendo que é tão difícil asseverar a exactidão dum facto como julgar um homem com justiça. Todos os dias mudamos de opinião.
Todos os dias somos empurrados para léguas de distância por uma coisa frenética, que nos leva não sei para onde. Sucede sempre que, passados meses sobre o que escrevo - eu próprio duvido e hesito. Sinto que não me pertenço...
É por isso que não condeno nem explico nada, e fujo até de descer dentro de mim próprio, para não reconhecer com espanto que sou absurdo - para não ter de discriminar até que ponto creio ou não creio, e de verificar o que me pertence e o que pertence aos mortos.
De resto isto de ter opiniões não é fácil. Sempre que me dei a esse luxo, fui forçado a reconhecer que eram falsas ou erróneas"