Raizes de Granito

Aos poucos vamos conhecendo as pessoas da Anffas, mesmo não sabendo falar italiano. Lucianna fala muito e rápido, é perdidamente apaixonada pelo Mario. Pediu-me para eu escrever uma carta para o Mario, o que vale é que não era difícil, te voglio molto bene. Escrevi também em português para não haver enganos!

Passei a manhã a pintar, então já sei o nome das cores em italiano.
Domenico, não sei quantos anos tem, mas tem alguns. Fala muito e com piada. Geralmente sobre comida – andiamo a una tratoria e pagas tu!

Germana é surda então temos de gritar vezes sem contas os nossos nomes. Na Anffas ,o Ersin (rapaz turco) passou a ser Elsin e eu Jo. Entretanto fizemos um crachá com os nossos nomes para ajudar a malta.

Ontem era dia de fisioterapia, a sala estava bastante congestionada. Segundo o que percebi, o ginásio é muito frio nesta altura. Três fisioterapeutas e um deles com ar de quem ia ver a bola ao fim de semana. Fato de treino branco aberto quase ate meio do peito, careca ou cabelo totalmente rapado e ouro por todos os lados. Só faltava o palito na boca e um jornal para colocar no assento.

Estava também um rapaz que está a fazer uma sessão fotográfica. O projecto é pegar em quadros de pintores italianos famosos, geralmente com o corpo nu e fazer uma montagem com pessoas com deficiência. A questão da beleza do corpo.

Primeiro aula do curso de italiano para estrangeiros. Estava quase a perder a memória de como era estar numa sala de aulas, mas esta não é uma sala normal - russos, chineses, indianos, turcos, um americano, africanos entre os quais um moçambicano de Maputo com quem falei em português. Está aqui a estudar há 5 meses. Contudo, mais de metade dos alunos faltou porque tiveram de ir à “Questura” – tipo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras..papelada e mais papelada para serem “legais”!

Tá legal cara?