José Gomes Ferreira, mais uma vez.
"Aqui, nesta praia amarela,
ainda fúria acesa
do sol da criação,
no princípio do mundo
um homem surgiu nela
- espanto vagabundo
sem pátria e sem inferno,
feliz na sem-razão -
e olhou para o mar
surpreendido
de ver o céu caído
e mais natureza
a nascer-lhe no olhar.
Hoje, nesta praia do sul
ao pé dum velho Forte,
quando a luz outoniça
e parda do poente
voa no céu azul
todo o mistério dos fossos
- um poeta altivo e mudo,
com pátria,
com inferno,
com morte
e, principalmente,
com esta dor da justiça,
olha com espanto para tudo:
caos de lágrimas e ossos,
cóleras de Primavera,
raivas de mar profundo...
E os homens de novo à espera
do princípio do mundo."
(Heróicas XXXIX , Poesia I)
Eu sei de uma praia amarela, onde há um forte e onde a vida e a morte se cruzam. É também nessa praia que procuro todos os dias um princípio de algo, talvez seja apenas o princípio dos dias. Mas penso no princípio de uma nova vida dispersa, um pouco por cada peixe, por cada conquilha, por todo o mar. Procuro em cada cor de cada manhã, dia após dia.
Só me falta ser "feliz na sem-razão". E como gostava!
Só me falta ser "feliz na sem-razão". E como gostava!
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